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De que marca são as câmeras usadas pelas emissoras de televisão?
Geralmente são de quatro empresas: Sony, Ikegami, Thomson/Grass Valley e mais raramente JVC e Panasonic.
As melhores câmeras usadas pela Rede Globo são da Ikegami, desde os anos 70. A marca é totalmente desconhecida fora do mercado broadcast, e seus preços são um tanto inacessíveis para os pobres mortais (inclua-se aí o pessoal da maioria das produtoras, que tem como única opção alugá-las, caso seja realmente necessário.)
O programa Zapping Zone, do Disney Channel, chamou a minha atenção (na época da estréia, em 2001) por usar câmeras da JVC, marca não muito lembrada pelas emissoras e produtoras. É que esse fabricante faz algumas câmeras muito pequenas (como a GY-DV700), mas que são compatíveis com sistemas profissionais, e nesse programa há uma corrida disputada por cameramans.

Por quê algumas câmeras de TV ainda são tão grandes?
As câmeras de televisão do tipo usado em novelas e jogos de futebol são grandes principalmente por causa das lentes. Lentes de maior diâmetro tornam as câmeras mais sensíveis e aumentam a qualidade da imagem em aplicações onde isso é necessário. Quando não é tão necessário assim, usam-se as câmeras “docadas” – isto é, são as câmeras usadas por equipes de reportagem, mas com monitor em vez de viewfinder. (Já tive o privilégio de colocar no ombro uma câmera nessa configuração e ela fica impossível de ser usada…)
E isso é bem recente, possivelmente o primeiro programa de TV feito no Brasil totalmente sem câmeras “full-size” foi o game show O Melhor de Todos (1994), produção exibida pela Band.
Vale lembrar também que o tamanho das câmeras aumentou ultimamente por causa da chegada da tecnologia HD, que não fosse o tamanho maior das lentes, exigiria também mais luz para os programas serem gravados. Nos EUA o programa do palhaço Bozo, nos anos 50, era em cores, gravado por câmeras RCA que tinham mais de 1 metro de comprimento – exatamente aquelas que aparecem no clipe Hey Ya, do Outkast. Eu imagino o suplício do intérprete do Bozo debaixo daquelas luzes, porquê essas câmeras eram ceguetas de tudo.

Uma curiosidade é que normalmente as câmeras full size são de cores claras e as menores, de cores escuras. Não sei por quê. Mas isso não é regra, pois o contrário disso também existe, ao menos entre os produtos fabricados pela Sony.

Quanto custa uma câmera como essas da televisão?
Eu já tive essa dúvida, e felizmente hoje em dia a Internet nos tira algumas delas. Imaginemos uma situação bizarra, em que você gostaria de ter uma câmera EFP, só uma, pra ligar na entrada da televisão e dizer: “Olha, mãe, eu tô na Globo!” E a sua mãe dizer: “Mentira, cadê o selo do ‘ao vivo’?…”

O último lançamento do setor, a HDC1000RLW, da Sony, custa 100.000 dólares – redondos – nos EUA – provavelmente perguntando aos revendedores da Sony na América Latina esse preço será maior – em reais, então, vix. Para ligar ela em um televisor, seria necessário comprar também a CCU. A CNU700 custa 13.470 dólares, e a HDCU1500L (para vídeo em HD), custa 27.398 verdinhas. Mais um pequeno adaptador BNC-RCA na saída analógica composta (uns 5 reais, no máximo, em lojas aqui no Brasil) e voilá!… Êita hobby caro, preferia jogar golfe.  Com esse dinheiro você compra um carro de dar inveja em todo o seu bairro e possivelmente muncípios vizinhos.
Ou seja, um reles estúdiozinho de televisão com só umas 3 câmeras dessas pode carregar mais de 1 milhão de dólares em equipamento. Não é a toa que geralmente a segurança é tão rigorosa nesses lugares… Na verdade isso só se aplica ao eixo Rio-São Paulo (e, dando um desconto, Pernambuco, que tem uma emissora própria da Rede Globo). Em outros lugares do Brasil são usados equipamentos mais modestos, principalmente em fornecedores de conteúdo alternativos, como igrejas.

Como fazem para colocar mais de uma imagem na tela ao mesmo tempo – por exemplo, no telejornal, quando o apresentador chama um repórter ao vivo?
É através do mesmo equipamento que corta e/ou faz efeitos de uma câmera para outra, a mesa de corte. Antigamente, isso se dava usando um simples efeito parado pela metade usando a T-Bar. Mas isso já mudou: ao menos nos equipamentos da Sony, um conjunto de 4 botões regula tamanho e perspectiva da tela. Cada tela e o fundo usa um keyer do equipamento – por isso, quanto mais keyers a mesa tem, mais cara. Até hoje só tive a oportunidade de mexer em uma de 2 keyers, e ela só fazia efeitos em 2D, então não tinha lá muita gracça… Essas mesas são incomuns por causa do preço e também porquê elas só são necessárias para produções ao vivo, para produções em VT um keyer basta. Temos conhecimento de que Globo e Record tem UMA mesa cada com 4 keyers. No mercado existem mesas com até 6 keyers, capazes de, por exemplo, gerar um cubo com 6 imagens em tempo real – um efeito considerado inútil, que só tem lugar em chamadas e olhe lá.
Vale lembrar que nada disso vale para a edição não-linear, feita em computador, onde todos esses limites caem.

Em breve, ainda mais!